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Inovação científica

4 min de leitura

Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Ecossistemas de inovação dependem de trocas de experiências, colaboração, conectividade e diversidade de talentos para prosperar | por Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

17 de Janeiro

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Artigo Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Em 2023, uma emergente comunidade focada em inovação e empreendedorismo em saúde promoveu dois encontros presenciais em São Paulo, com transmissão online, atraindo mais de 300 participantes de origens e formações variadas. Profissionais e startups de saúde, investidores, empreendedores e grandes empresas, unidos por um interesse comum - compartilhar insights -, tornaram-se fonte de conhecimento para todos os interessados no setor.

Este artigo reúne reflexões extraídas das apresentações e discussões que aconteceram nos encontros, além de experiências acumuladas ao longo do ano por uma comunidade que já ultrapassa 800 membros.

Colaboração na inovação em saúde

Nassim Nicholas Taleb, em sua obra Antifrágil - Coisas que se beneficiam com o caos, apresenta o conceito de "Noise Bottleneck" (em português, Gargalo de Ruído), por meio do qual enfatiza que o excesso de informação pode dificultar a tomada de decisão. Não por acaso, um ponto de atenção na comunidade de inovação em saúde tem sido escalar o número de participantes, sem perder de vista a excelência do conteúdo e a riqueza das interações entre os participantes.

No contexto da inovação e empreendedorismo em saúde, a impressão que se tem é de que novidades surgem constantemente. Entretanto, é essencial reconhecer que a inovação é fruto de esforços persistentes e acumulados. Trata-se de uma trajetória repleta de desafios, que exigem disciplina, dedicação contínua e, frequentemente, de colaboração entre múltiplos elementos complementares.

Por exemplo, as fundações da inteligência artificial foram estabelecidas na metade do século passado. Nas últimas décadas e mais intensamente nos anos recentes, diversas iniciativas têm revolucionado áreas como diagnóstico de doenças, aceleração de exames de ressonância magnética, pesquisa em resistência a antimicrobianos e na gestão e tratamento de pacientes crônicos. Esses tópicos são frequentemente debatidos na comunidade e foram o foco de apresentações de 13 startups e grandes empresas do setor em um dos encontros do ano passado.

Inovação de alto impacto em saúde

Na comunidade de inovação em saúde, destacam-se iniciativas de pessoas, startups e grandes empresas focadas em proporcionar saúde e bem-estar a brasileiros que não têm acesso à rede privada de saúde. O objetivo é promover impacto social, equidade e inclusão. Como exemplo, destacamos as soluções de telemedicina, como a telecolposcopia, que permite que indivíduos, independentemente de sua localização, recebam atendimento médico e suporte de profissionais de saúde.

Investimento em inovação

Investir em treinamentos e equipamentos de saúde, mesmo após atingir bons níveis de desempenho, não é trivial. Grandes empresas participantes da comunidade de inovação em saúde, como hospitais, centros de medicina diagnóstica e fornecedores de equipamentos médicos, estão adotando inovações para aprimorar continuamente a qualidade de seus serviços.

Essa mentalidade de reinvenção também se estende a investidores e grandes bancos, que estão atentos às mudanças em saúde e reavaliando suas estratégias de alocação de recursos para se engajar em iniciativas inovadoras e empreendedoras. Embora a tecnologia seja frequentemente associada à inovação, grandes transformações também podem resultar de novos processos, sem que isso demande necessariamente diferentes metodologias. Ao implementar inovações, é crucial que se desenhem experiências que proporcionem melhor adesão e sucesso aos pacientes.

Além disso, uma visão sistêmica e a análise das raízes dos problemas são fundamentais para orientar inovações. A transição para um modelo de incentivo focado na saúde a longo prazo, em vez de intervenções pontuais, demanda mudanças substanciais no setor, representando um desafio que transcende a esfera tecnológica.

Outro tipo de inovação que pode ser necessária em algum ponto da jornada é aquela que exige o exercício de reaprender. Adam Grant, em Hidden Potential: The Science of Achieving Greater Things, defende que simplesmente aumentar a carga de trabalho das equipes não é suficiente; é essencial reinventar abordagens. Alterar fluxos e processos estabelecidos pode inicialmente reduzir a produtividade, mas, a longo prazo, pode elevar os resultados a novos patamares de sucesso e realização.

Gestão de foco

Empresas bem-sucedidas em inovações na saúde destacam-se pela gestão eficaz do foco. Seja uma startup ou uma multinacional, de pequeno ou grande porte, com orçamento enxuto ou de bilhões de reais, o que as diferencia é o foco permanente em solucionar os desafios de seus públicos-alvo. Para isso, estabelecem prioridades estratégicas, geram inovações a partir de problemas latentes e criam áreas dedicadas para implementar essas inovações em suas operações.

A troca de experiências e a colaboração entre diversos integrantes da comunidade de inovação também têm sido motores fundamentais para a geração de novos produtos e parcerias - até então impensáveis - no setor de saúde, mostrando na prática que o efeito de rede pode potencializar impactos positivos.

Artigo escrito em parceria com Lucas Zarconi, cofundador da Healthtech Sofya, mestre em administração pela FGV e professor da FGV EBAPE.

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Autoria

Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

Gustavo Meirelles é fundador, investidor e conselheiro de startups, principalmente na área da saúde. Médico radiologista, com especialização, doutorado e pós-doutorado no Brasil e no exterior. Tem experiência como executivo de grandes empresas de saúde, com MBA em gestão empresarial. Lucas Zarconi é cofundador da Healthtech Sofya, mestre em administração pela FGV e professor da FGV EBAPE.

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