Após autorização do Banco Central para operar como instituição de pagamento, fintech promoveu mudanças para novo ciclo
O ano de 2020 foi um divisor de águas para a iugu, fintech brasileira fundada em 2012 em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Em agosto último, ela obteve a autorização do Banco Central (BC) para operar como instituição de pagamentos, ação pleiteada quatro anos antes. No mês seguinte, recebeu aporte que totalizou R$ 120 milhões. O aporte completou uma rodada de investimento iderada pelo Goldman Sachs Merchant Banking, braço de private equity do famoso banco de investimento norte-americano.
Assim, a iugu teve de fazer uma série de mudanças desafiadoras para estrear essa nova fase de crescimento, respeitando todos os critérios éticos, de governança, compliance etc. André Luiz Gonçalves, CFO na iugu, foi entrevistado no programa “Eixo Exponencial SAP – O futuro no agora: existe um caminho certo para os modelos de negócio?”, no dia 4 de março de 2021, e contou em mais detalhes o processo de transformação que a organização passou devido ao BC, ao investimento do Goldman Sachs e, é claro, à pandemia de Covid-19 e suas consequências. MIT Sloan Management Review Brasil esteve na bancada de entrevistadores.
Um dos primeiros passos que a iugu deu foi aprimorar as atividades do back-office. Para isso, decidiu implementar um sistema de gestão inteligente, e o escolhido foi o SAP S/4HANA. O projeto tem go live previsto para o segundo semestre de 2021, e com ele, a fintech espera trazer ainda mais robustez aos processos e controles internos, em um ambiente regulatório mais sofisticado, como o exigido de instituições de pagamento.
Não é trivial para uma startup passar a se submeter a processos de supervisão do Banco Central e de uma auditoria independente – a KPMG, no caso –, a fim de garantir as conformidades. Desde setembro de 2020, a iugu passou a cumprir com compliance mensal e semestral junto ao Banco Central.
A nova ferramenta de gestão é importante, entre outras coisas, porque permite parametrizar todos os relatórios, de acordo com Gonçalves. “É um investimento importante e estratégico para nós, que permite escalabilidade do nosso negócio com segurança para os clientes e fornecedores, e transparência para os nossos acionistas”, disse o CFO da iugu.
Durante o Eixo Exponencial SAP, Gonçalves enfatizou que a fintech, atuante no segmento de pequenas e médias empresas, quer ser muito mais do que uma empresa de meios de pagamento para seus clientes. “Transformamos a história dos nossos clientes para que possam focar em seu core business, deixando que a iugu gerencie sua produtividade e dê eficiência a seu fluxo financeiro de ponta a ponta, para dar transparência aos resultados”, afirmou Gonçalves.
Além de fornecer às PMEs da sua carteira a solução de recebimento por boleto, cartão de crédito e Pix, a fintech dispõe de solução de automação permitindo a conciliação do fluxo financeiro e gerando uma série de relatórios de controles de faturamento, recebíveis, cobranças recorrentes.
Sua plataforma ainda calcula automaticamente o comissionamento de vendedores de modo parametrizado, o que, conforme explica Gonçalves, evita trabalhos manuais de conciliação – que, por sua vez, estão sujeitos a erros e inibem o crescimento, se traduzindo em uma gestão financeira ineficiente. “Nossos clientes costumam dizer que saíram da idade da pedra”, completa o executivo.
A inovação na iugu parece estar só começando. “Desde a autorização do Banco Central, nossa área de tecnologia está trabalhando em integrações com o sistema de pagamentos brasileiro para a desenvolver novos produtos. Vamos oferecer opções como TED para terceiros, transferências via Pix, pagamentos de contas e tributos. E ainda teremos um cartão pré-pago bandeirado para o cliente fazer uso dos recursos que estão na sua conta iugu. E isso é só o começo nessa nova jornada da iugu”, adiantou Gonçalves, mostrando o caminho do crescimento da empresa.
A iugu – cujo nome é um trocadilho da palavra em latim iugo, que significa “união, conectar-se” – nasceu de uma necessidade de seus fundadores, Patrick Negri e Marcelo Paez, quando tentaram criar um negócio SaaS, em 2012. Na época, as empresas de pagamento existentes no Brasil eram focadas em soluções para o e-commerce tradicional e ignoravam PMEs tecnológicas. Foi quando Negri e Paez perceberam o espaço para uma fintech que atendesse a necessidade de negócios diferenciados, como SaaS, marketplaces e aplicativos.
Em seus nove anos de história, a iugu já processou R$ 14 bilhões. Hoje, com cerca de 169 colaboradores, é responsável pela gestão de mais de 60 mil contas ativas e informa registrar uma taxa de satisfação dos clientes de 98%.
Sua receita tem dobrado anualmente – fechou 2019 com faturamento de R$ 40 milhões – e os números de 2020, com o foco redirecionado para e-commerces, prometem. Até o fechamento desse texto, o balanço final não estava publicado, mas a expectativa da empresa é continuar entregando um crescimento significativo sobre o ano anterior. Em tempo: a iugu foi fundada na garagem da casa da mãe de Negri.
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