fb

Inovação

11 min de leitura

Sete fatores de sucesso em um programa de ideação corporativo

Os programas de ideias dependem de fatores-chave que contribuem para o engajamento e a efetividade dos participantes. Além de criar uma cultura de inovação, a ideação é uma forma eficaz de envolver os colaboradores no processo criativo que podem gerar impacto significativo no negócio

Colunista Filippo Rodrigues

Filippo Rodrigues

14 de Abril

Compartilhar:
Artigo Sete fatores de sucesso em um programa de ideação corporativo

A ideação é uma ferramenta poderosa que as empresas utilizam para gerar novas ideias e soluções inovadoras para os seus desafios. Essa técnica é fundamental para estimular a criatividade e o pensamento fora da caixa, o que pode levar a resultados significativos em termos de inovação, cultura, crescimento e vantagem competitiva.

O impacto da ideação pode ser significativo. Por meio da colaboração e do pensamento criativo, a empresa pode descobrir novas formas de aumentar a sua eficiência, melhorar a qualidade do produto e serviço e desenvolver novos modelos de negócios. A ideia mais inovadora pode se transformar em um novo produto ou serviço que pode mudar a forma como os consumidores pensam sobre a empresa e a sua marca.

Realizamos uma pesquisa envolvendo oito comunidades de inovação no Brasil e tivemos respostas de mais de 30 gestores de inovação e consultores sobre suas experiências. Confira a seguir os principais achados.

Objetivos

Trabalhar a cultura e gerar ideias aprofundadas são dois aspectos fundamentais da ideação. Ambos visam desenvolver a criatividade, o pensamento crítico e a colaboração entre os membros da equipe, mas de formas diferentes.

Trabalhando a cultura, o foco é no engajamento dos colaboradores e no desenvolvimento de uma cultura de inovação na empresa. Nesse caso, a ideação busca gerar o máximo de ideias possível com o maior número de participantes de forma simples. No nível organizacional serve para estimular a criatividade e a colaboração entre os membros da equipe, criando um ambiente propício para o surgimento de novas ideias.

No aprofundamento, o foco é na busca de ideias de grande impacto para a empresa e para seus clientes. Nesse caso, a ideação pode ser mais estruturada, com a definição de temas específicos e a participação de especialistas no processo de ideação. No nível organizacional serve para mapear e priorizar hipóteses de soluções otimizando a efetividade das ideias.

Embora possam parecer objetivos distintos, é possível construir um programa de ideação que combine os dois, de cultura e aprofundamento, de forma complementar. O programa pode ser estruturado para que tenha uma abordagem que estimule a criatividade e a colaboração ao mesmo tempo em que visa detalhar e priorizar as ideias geradas. Dessa forma, os colaboradores podem se sentir engajados e motivados a participar da ideação, enquanto desenvolvem ideias inovadoras que podem ter um grande impacto nos negócios da empresa.

Os resultados dos programas de ideação geralmente são avaliados com base em uma série de critérios que levam em consideração a qualidade e o valor das ideias geradas. A seguir, estão alguns dos mais comuns:

  • Quantidade de ideias: uma maior quantidade de ideias pode indicar maior nível de engajamento dos colaboradores e uma maior criatividade.
  • Participação: um alto nível de taxa de participação dos colaboradores pode indicar que o processo de ideação foi bem estruturado e que os colaboradores se sentiram engajados e motivados a participar.
  • Diversidade de ideias: uma ampla variedade de ideias pode indicar que o processo de ideação foi bem estruturado e que os participantes foram incentivados a pensar fora da caixa.
  • Originalidade das ideias: ideias que são diferentes do que já existe no mercado ou na empresa podem ser mais valiosas e ter maior impacto nos negócios como um diferencial potencial da empresa.
  • Valor para o negócio: um programa deve ser avaliado pela capacidade de as ideias geradas durante o processo de ideação gerarem valor para a empresa, seja através da criação de novos produtos ou serviços, da melhoria dos processos existentes, de indicadores ESG ou da redução de custos e riscos. O que pode ser medido por análise financeira.
  • Viabilidade: o programa deve ser avaliado com base em sua capacidade das ideias geradas serem implementadas e executadas com sucesso. Isso pode ser mensurado pela quantidade de ideias que entraram em um funil de desenvolvimento.

Fatores de sucesso

O sucesso de um programa de ideação depende de vários fatores-chave que contribuem para o engajamento e a efetividade dos participantes. A seguir, estão alguns dos fatores mais importantes que podem influenciar o sucesso de um programa de ideação:

  1. Alinhamento e sensibilização com o tema do programa: é importante que os participantes do programa de ideação entendam claramente o tema do programa e sua importância para a empresa.
  2. Criar um ambiente propício para registrar a ideia: isso significa que o processo de registro deve ser simples e de baixa complexidade, para que os participantes possam registrar suas ideias rapidamente e sem dificuldade.
  3. Criar mecanismos para que possam se aprofundar nas ideias: isso pode incluir o estabelecimento de campos de tamanho e alcance da ideia, campos de impacto e campos de alinhamento com o tema, para que os participantes possam trabalhar em ideias que tenham um alto potencial de impacto para a empresa.
  4. Mecanismos de feedback: isso pode ajudá-los a entender melhor o processo de ideação e melhorar suas habilidades de pensamento criativo. Além disso, o feedback pode ajudar a selecionar as melhores ideias para implementação.
  5. Mecanismos de premiação/gamificação: isso pode incluir prêmios para as ideias selecionadas ou pontuações para as ideias mais criativas e impactantes.
  6. Mecanismos de compartilhamento/comunidades: isso pode incluir fóruns de discussão, grupos de trabalho ou redes sociais internas da empresa.
  7. Escolha cuidadosa do público-alvo do programa: a escolha cuidadosa do público-alvo pode aumentar a qualidade e a diversidade das ideias geradas no programa de ideação.

Formatos

Os programas de ideias podem ser realizados tanto em grupo quanto individualmente. Cada formato tem suas vantagens e desvantagens, e a escolha dependerá dos objetivos específicos do programa. A seguir, estão alguns exemplos de formatos de programas de ideias em grupo:

  • Hackathons: são eventos intensivos em que os participantes trabalham em equipes para desenvolver soluções inovadoras para problemas específicos. Os hackathons geralmente duram de um a três dias e envolvem atividades como brainstorming, prototipagem e apresentações finais.
  • Design Sprint: é um processo criativo que envolve uma equipe multidisciplinar trabalhando juntos em um curto período de tempo para resolver problemas complexos. O Design Sprint envolve a utilização de ferramentas e técnicas de design para desenvolver soluções inovadoras em um curto espaço de tempo.

É importante destacar que o estudo Productivity Loss in Brainstorming Groups: A meta-analytic integration, de 1991, alerta que o formato de brainstorming de ideias em grupo pode levar a menor quantidade e qualidade de ideias, devido à conformidade do grupo ou à limitação do desempenho do membro mais fraco. Nesse sentido, é importante adotar estratégias para evitar esses efeitos negativos, como estabelecer regras para a participação igualitária e o uso de ferramentas de prototipagem para estimular a criatividade.

Os programas de ideias individuais são aqueles que permitem que os colaboradores gerem ideias de forma independente, sem a influência de outras pessoas ou grupos. Essa abordagem é útil para empresas que desejam garantir que as ideias geradas sejam de fato originais e não influenciadas por fatores externos, como a opinião de outras pessoas.

Um dos formatos mais comuns de programas de ideias individuais é o formulário online, onde os colaboradores podem preencher suas ideias e enviá-las de forma anônima ou identificada. Esses formulários geralmente têm campos específicos para que os colaboradores forneçam informações detalhadas sobre suas ideias, incluindo a descrição do problema que a ideia resolve, como ela funciona e quais são seus possíveis impactos.

Outros possíveis formatos de programas de ideias individuais incluem:

  1. Diários de ideias: são cadernos ou diários pessoais onde os colaboradores podem registrar suas ideias de forma livre e espontânea. Essa abordagem é útil para empresas que desejam estimular a criatividade e a inovação de forma contínua e sem a pressão do tempo.
  2. Competições de ideias: são concursos em que os colaboradores são incentivados a gerar ideias criativas para um desafio específico. Essas competições geralmente envolvem prêmios ou recompensas para as ideias vencedoras.
  3. Idea boxes: são caixas físicas ou digitais onde os colaboradores podem depositar suas ideias anonimamente. Essa abordagem é útil para empresas que desejam garantir a confidencialidade das ideias geradas e permitir que os colaboradores se expressem livremente sem medo de julgamento ou críticas.

O estudo Alternating Individual and Group Idea Generation: Finding the elusive synergy, de 2016, indica que alternar entre a ideação individual e em grupo pode gerar os melhores resultados. Isso porque a ideação individual permite que os participantes explorem suas próprias ideias sem serem influenciados por outros, enquanto a ideação em grupo pode estimular a criatividade e a colaboração. Alternar entre esses dois formatos pode permitir que os participantes gerem ideias mais diversas e de maior qualidade.

Critérios de avaliação

Ao avaliar as ideias geradas em um programa de ideação, é importante definir critérios claros para garantir que as ideias selecionadas tenham potencial de impacto positivo para a empresa. Entre os principais critérios, estão:

  1. Critérios de tamanho e alcance da ideia: avaliam o potencial de impacto da ideia em termos de tamanho do mercado ou potencial de escalabilidade interna e a frequência em que a solução será “consumida”.
  2. Critérios de impacto: avaliam o potencial de impacto da ideia em relação aos objetivos estratégicos da empresa; mais comum vermos esse tipo de critério fraseado como aumento de receita ou redução de custos.
  3. Critérios de alinhamento com o tema: avaliam a aderência da ideia ao tema do programa de ideação, garantindo que ela esteja alinhada aos objetivos estratégicos da empresa.

Além desses critérios principais, outros critérios possíveis podem ser incluídos, como a complexidade da ideia, o impacto em segurança, saúde e meio ambiente (SSMA), impacto em indicadores ESG, o prazo de implementação da ideia (curto, médio ou longo prazo), a amabilidade/atratividade do cliente, os riscos envolvidos (jurídicos, de negócio etc.), o perfil do time envolvido na implementação da ideia, a originalidade da ideia, o potencial de diferenciação em relação aos concorrentes, a escala externa (potencial de se tornar um novo negócio) e a maturidade da empresa em relação à ideia.

Ao definir critérios claros de avaliação é importante ter um alinhamento e um feedback dos colaboradores em relação ao desenvolvimento das ideias, além de que a empresa pode garantir que as ideias selecionadas tenham o potencial de impactar positivamente o negócio e contribuir para o alcance dos objetivos estratégicos.

Pré-programa

Antes de iniciar o programa de ideação, é essencial garantir que todos os envolvidos estejam alinhados com os objetivos, a mecânica e a governança do programa. Uma das etapas do pré-programa é realizar um alinhamento com os líderes da área interna para definir os objetivos, a mecânica e a governança. Isso pode incluir a definição dos critérios de avaliação, as regras para a participação e o processo de seleção das ideias.

Além disso, é recomendável criar um Comitê de Inovação para avaliar as ideias geradas durante o programa de ideação. Esse comitê deve ser composto por pessoas com habilidades complementares que possam avaliar as ideias de forma objetiva e imparcial.

Outro fator importante no pré-programa é garantir o alinhamento com o público-alvo, ou seja, as pessoas que vão gerar as ideias. Isso pode ser feito por meio de dinâmicas e workshops que ajudem a sensibilizar e capacitar os colaboradores para gerar ideias inovadoras. Algumas dinâmicas e workshops que podem ser realizados incluem:

  • A. Sensibilização da cultura de inovação e os temas: apresentação dos conceitos básicos de inovação e dos temas específicos do programa de ideação.
  • B. Alfabetização digital: capacitação dos colaboradores para utilizar as ferramentas digitais que serão utilizadas durante o programa de ideação.
  • C. Benchmarkings, tendências e futurismo: apresentação de exemplos de boas práticas e tendências em inovação, para inspirar os colaboradores a pensar de forma mais criativa.
  • D. Fluência com o JtbD, value proposition, dor do cliente etc.: treinamento dos colaboradores em conceitos como jobs to be done, proposta de valor e compreensão das dores e necessidades dos clientes.
  • E. Kickoff da chamada explicando como serão as mecânicas e governança: apresentação do programa de ideação e das regras para a participação, esclarecendo dúvidas e dando as boas-vindas aos participantes.

Essas dinâmicas e workshops podem ser organizadas como trilhas dentro de uma plataforma digital que centralize todas as informações e ferramentas necessárias para o programa de ideação. O pré-programa é fundamental para garantir que o programa de ideação seja bem-sucedido e que as ideias geradas tenham o potencial de impactar positivamente o negócio.

Pós-programa

Após o programa, é importante valorizar e comemorar as ideias geradas pelos colaboradores. Isso pode ser feito por meio de um evento de encerramento do programa, em que as ideias selecionadas sejam apresentadas e reconhecidas pelos líderes da empresa.

Além disso, é importante estabelecer um follow-up com os colaboradores para manter o envolvimento e o engajamento. Isso pode significar a inclusão dos colaboradores no Comitê de Inovação e/ou no desenvolvimento e implementação das ideias selecionadas.

No pós-programa, também é importante definir os próximos passos para a seleção, elaboração e desenvolvimento das ideias. Isso pode incluir a realização de um Pitch de Ideias ou a avaliação das ideias pelo Comitê de Inovação, por exemplo. É importante definir com clareza os critérios de seleção e o processo de desenvolvimento das ideias para garantir que as melhores ideias sejam selecionadas e implementadas.

Por fim, o pós-programa é uma oportunidade para demonstrar o compromisso da empresa com a inovação. Isso pode motivar os colaboradores a participarem de novos programas de ideação e a contribuírem com ideias ainda mais valiosas.

A inovação é a chave para o sucesso das empresas em um mundo cada vez mais complexo e competitivo. Os programas de ideias são uma forma eficaz de envolver os colaboradores no processo criativo que podem gerar impacto significativo no negócio. Ao adotar uma abordagem estratégica para a ideação e valorizar as ideias dos colaboradores, as empresas podem criar uma cultura de inovação que impulsiona o sucesso no longo prazo.

Compartilhar:

Autoria

Colunista Filippo Rodrigues

Filippo Rodrigues

Filippo Rodrigues é head de produtos e inovação na Infotec Brasil e sócio-fundador da Neuraltronic e Bitbeers. Com vasta experiência em mentoria e consultoria, também atua orientando startups e empresas na área de inovação corporativa e em programas como InovAtiva, Centelha e em boards de algumas empresas.

Artigos relacionados

Imagem de capa A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapasAssinante

Inovação

29 Fevereiro | 2024

A transformação digital de companhias fabris deve ser feita em etapas

Levar empresas industriais à era digital pode ser uma tarefa árdua – dificultada, muitas vezes, pelo uso de indicadores errados para avaliar o processo. Pesquisa revela que obtêm sucesso as organizações que fazem a transformação digital em três etapas, cada uma com métricas próprias. Conheça o método e veja como aplicá-lo

Nitin Joglecar, Geoffrey Parker e Jagjit Singh Srai
Imagem de capa Digital aproxima serviços de saúde do formato varejistaAssinante

Inovação

31 Janeiro | 2024

Digital aproxima serviços de saúde do formato varejista

Com os avanços da tecnologia e a chegada de pesos-pesados do varejo ao ramo, que as clínicas de varejo vêm despontando para ajudar a deixar o setor de saúde mais dinâmico, integrado, digital e responsivo. Conheça as principais iniciativas, lá fora e no Brasil

Norberto Tomasini
Imagem de capa A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agoraAssinante

ESG

31 Janeiro | 2024

A IA também polui – e a hora de lidar com isso é agora

Se nada for feito, a inteligência artificial pode se tornar uma das maiores emissoras de carbono da economia global. Mas com boas práticas, estratégias eficientes, conscientização e, claro, maior uso de fontes renováveis de energia, esse quadro pode ser revertido. Veja como agir

Niklas Sundberg
Imagem de capa Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Inovação científica

17 Janeiro | 2024

Comunidades de inovação em saúde: potencializando o efeito de rede

Ecossistemas de inovação dependem de trocas de experiências, colaboração, conectividade e diversidade de talentos para prosperar | por Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

Gustavo Meirelles e Lucas Zarconi

4 min de leitura

Imagem de capa Espiral 5E: inteligência natural para a resolução de problemas complexos

Inovação

23 Novembro | 2023

Espiral 5E: inteligência natural para a resolução de problemas complexos

O processo de transformação contínua da natureza de explorar, visualizar, capacitar, executar e avaliar, tende a ser interrompido no mundo acelerado da atualidade. Mas é fundamental olhar para os outros E’s na espiral, especificamente explorar e visualizar

Katsuren Machado

4 min de leitura