Como eliminar desperdícios e melhorar a qualidade dos serviços prestados, colocando o paciente e o profissional de saúde no centro
“Achou que daríamos dicas sobre como melhorar o engajamento dos seus clientes no TikTok? Desculpe, este artigo não é para você. “Tic-toc”, a onomatopeia, é aquele barulhinho que os antigos relógios faziam e que, muitas vezes, representa o passar do tempo.
No setor de saúde, o passar do tempo está nos atormentando pela seguinte situação: observamos a variação do custo médico hospitalar (ou inflação médica, um termo que muitos economistas não gostam) cada vez maior e, para complicar, superior à inflação oficial, mensurada pelo IPCA. Para se ter uma ideia, se considerarmos o ano de 2021, a VCMH alcançou 18,2%, enquanto no mesmo período o IPCA foi de 10,06%. Em última análise, isso significa que a cada dia fica mais difícil e mais caro pagar pelos cuidados em saúde.
Para solucionar o problema, é preciso controlar os custos sem, contudo, impactar a qualidade dos serviços disponibilizados. Vários modelos têm sido propostos. Uns pretendem mudar o modelo de remuneração (capitation, bundled payment, saúde baseada em valor), outros propõem alterações na infraestrutura de cuidado (unidades integradas, shoppings da saúde, hospitais-dia).
Todos exigem mudanças estruturais maiores (investimento e infraestrutura), reformulação de conceitos ou estabelecimento de métricas desafiadoras. É o caso do valor em saúde, que relaciona o desfecho de determinada doença com o seu custo.
Nossa proposta é sugerir um primeiro passo para o setor de saúde, menos ousado e mais assertivo. Em linguagem futebolística: colocar a bola no chão e, com ações mais simples e baratas, estancar sangramentos agudos do sistema.
A melhoria de processos na saúde envolve redesenhar atividades clínicas, operacionais e administrativas, de modo a transformá-las em algo mais enxuto. Dessa forma, podemos eliminar desperdícios e melhorar a qualidade dos serviços prestados.
O conceito, consolidado por William Edwards Deming, administrador obcecado por maneiras de melhorar processos, já impactou uma série de setores, inclusive o da saúde. Empresas que adotam tais técnicas (lean production, six sigma e agile) podem obter melhorias significativas em eficiência e custo.
Um processo é uma série de etapas e decisões envolvidas na forma como o trabalho é concluído. Coloque o paciente no centro do processo do cuidado e desenhe a jornada dele no sistema de saúde. Pode ser, por exemplo, o trajeto do cliente da descoberta de um nódulo pulmonar até o fim de seu tratamento, incluindo os médicos e infraestrutura utilizados, considerando as etapas desde a marcação do exame que detectou a lesão até a recuperação pós-operatória, caso tenha acontecido.
Se você é profissional de saúde, coloque-se no centro. Entenda sua jornada. Esquematize. Pense, por exemplo, no tempo que uma médica ou enfermeira leva realizando tarefas burocráticas e de baixo valor agregado, como encontrar exames do paciente em diversos sistemas e preencher formulários. É provável que, além de desperdícios e retrabalhos, você encontre outras atividades de baixo valor agregado que reduzem a produtividade ou mesmo a qualidade do atendimento.
Se você desenhou a jornada do paciente ou, sendo profissional de saúde, se colocou no centro do processo, é provável que tenha encontrado alguma coisa que não faça sentido: retrabalho, desperdício ou atividades de baixo valor agregado. Pronto!
Um bom ponto de partida é encontrar soluções para esses problemas. Volte ao paciente do nódulo pulmonar. Se você conseguiu reduzir o tempo entre o diagnóstico e o tratamento eliminando, por exemplo, consultas ou exames desnecessários, é provável que tenha melhorado o desfecho do paciente, seja por ter realizado um tratamento mais rápido, impedindo que a doença avançasse, seja por ter eliminado desperdícios na jornada e, portanto, reduzido o custo dos cuidados. Com isso, há um aumento do valor para o sistema.
Há muitas metodologias de melhoria de processos existentes para reduzir ineficiências. Entre elas, destacamos six sigma, lean, kaizen e controle de qualidade total. Para dominá-las, é preciso estudo sistemático. Para implementá-las, suporte organizacional e engajamento.
O que sabemos, de fato, é que o sistema, da maneira como está construído, não se sustenta. É preciso mudar e encontrar soluções simples e rápidas para o setor de saúde. Coloque o paciente no centro, desenhe a jornada e elimine os desperdícios. O tempo está passando! tic-toc…tic-toc…. tic-toc….
Artigo escrito em parceria com o Dr. Fabrício Machado, diretor médico na Prevent Senior (HealthDataLab), com MBA na Universidade de Miami.“”