AUTODESENVOLVIMENTO 9 min de leitura

Três comportamentos para cultivar a postura de aprendiz em 2025 

Confira também as armadilhas e tentações do mundo organizacional que podem matar o aprendiz que existe em você

Daniel Martin Ely
6 de janeiro de 2025
Três comportamentos para cultivar a postura de aprendiz em 2025 
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Janeiro sempre nos convida a refletir profundamente, seja revisitando o passado recente ou alimentando esperanças para um futuro melhor. Nesta primeira coluna de 2025, quero destacar o fator que sempre me conferiu um olhar otimista sobre o que vivi e o que ainda quero vivenciar: a postura de aprendiz.

Em 2015, por exemplo, precisei superar o que chamei de “miopia digital“. Para isso, mergulhei profundamente nos estudos, buscando entender a cultura dos ecossistemas de inovação, as startups e as tecnologias emergentes, disruptivas e convergentes, além da lógica da abundância que caracteriza esses ambientes.]

Os “building blocks”

Após 50 janeiros cultivando ativamente a postura de aprendiz, apresento a seguir três comportamentos ou características de pessoas que mantêm a postura de aprendiz ao longo da carreira, independente da idade.

1. Curiosidade

Desde a infância, exercitamos a curiosidade em níveis elevados, que continuam na adolescência e início da fase adulta. Em maior ou menor intensidade, é a curiosidade que nos impulsiona a novas descobertas. Por isso, em todas as fases da vida, precisamos ser estimulados em nossos núcleos familiares, educacionais e de relacionamentos para que a curiosidade não se dissipe ou seja reprimida.

Ao ingressarmos no mercado de trabalho, essa curiosidade ainda está presente, e a postura de aprendiz continua a trazer benefícios. Contudo, com o tempo e o crescimento nas estruturas organizacionais, muitos abandonam essa postura, acreditando que já não é essencial. 

Tenho percebido que, ao nos tornarmos rígidos em nossas convicções, começamos a diminuir nossa vontade de nos conectar com novos conhecimentos e situações. Ao final deste artigo, listo algumas armadilhas e tentações do mundo corporativo que podem extinguir o seu estado de aprendiz, além de minar o desenvolvimento pessoal e organizacional.

2. Inquietação com a realidade

A curiosidade é o fundamento básico de qualquer aprendiz, enquanto a inquietação em relação ao status quo é o que desafia crenças cristalizadas. Quando aliadas à coragem de explorar as consequências dessa inquietação, podem gerar um impacto transformador na organização. Transformar essa inquietação em inconformidade com o que está sendo realizado ou entregue pelo seu time ou organização é essencial. Agentes de mudança, grandes ou pequenos, são mestres em lidar com desafios, utilizando sua visão e determinação para gerar um impacto positivo.

Muitas das maiores descobertas e invenções ocorreram de maneira não tradicional, por pessoas que focaram sua curiosidade em resolver um problema específico, mas acabaram solucionando algo inesperado. Um exemplo clássico disso é a descoberta da penicilina por Alexander Fleming. Em 1928, Fleming estava pesquisando bactérias Staphylococcus em seu laboratório no Hospital St. Mary, em Londres. Durante suas férias, deixou algumas placas de petri com culturas bacterianas no laboratório. Ao retornar, observou que uma das placas havia sido contaminada por um mofo e, curiosamente, as bactérias ao redor do mofo haviam sido destruídas. Inicialmente, Fleming não estava focado em descobrir um antibiótico; seu objetivo era estudar as propriedades das bactérias. No entanto, sua curiosidade e atenção aos detalhes o levaram a investigar essa observação inusitada. Ele identificou o mofo como pertencente ao gênero Penicillium e percebeu que ele produzia uma substância que matava as bactérias. Essa descoberta revolucionária, que resultou no primeiro antibiótico eficaz, transformou a medicina moderna e salvou milhões de vidas.

3. Visão do copo meio cheio

Optar por ver primeiro o lado positivo das coisas fortalece sua atitude de aprendiz. Em outras palavras, a visão do copo meio cheio funciona como um forte catalisador de descobertas e aprendizados. Essa perspectiva encontra suporte nas teorias de emoções positivas desenvolvidas por Barbara Fredrickson, renomada psicóloga e pesquisadora da University of North Carolina (EUA).

Sua “teoria de expansão e construção” demonstra como emoções positivas – como alegria e otimismo – ampliam nossa capacidade de pensar, agir e explorar novas possibilidades, criando recursos duradouros para enfrentar desafios. Fredrickson também mostra que uma mentalidade positiva no ambiente de trabalho não só fortalece nossa criatividade, mas também melhora a resolução de problemas e as relações interpessoais, formando uma base sólida para o sucesso organizacional.

Na prática, funciona assim: você usa sua curiosidade para encontrar maneiras de aprimorar o que já está dando certo (a parte meio cheia). O tempo antes gasto lamentando o que não funcionou é redirecionado para identificar alternativas que permitam continuar avançando. Essa mudança de foco não apenas preserva energia mental, mas também abre espaço para soluções criativas e inovadoras. Fredrickson observa que, ao adotar essa postura positiva, a visão de possibilidades se expande e é mais fácil construir soluções que impulsionam o progresso.

No mundo organizacional, manter uma postura de aprendiz, com uma visão focada na parte cheia do copo, é uma característica de poucos. Aqueles que praticam isso regularmente conseguem cultivar um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo, tornando-se agentes de transformação tanto para si mesmos quanto para suas equipes.

Armadilhas que podem matar o aprendiz que existe em você

Em muitas organizações, especialmente nas mais tradicionais, a postura de aprendiz é ameaçada por condicionamentos culturais profundamente enraizados. Uma das armadilhas mais comuns é a cultura do conformismo, em que a inovação é desencorajada e a manutenção do status quo é priorizada. Esse ambiente se caracteriza por processos rígidos e uma aversão ao risco, silenciando questionadores e dificultando a postura de aprendiz, especialmente conforme se alcançam posições mais elevadas ou se envelhece. 

Outra grande barreira é a pressão por resultados imediatos, que pode levar os profissionais a se concentrarem exclusivamente em soluções de curto prazo, negligenciando o aprendizado contínuo e a inovação.

Para combater essas armadilhas, é essencial adotar estratégias eficazes. Buscar mentoria é uma excelente forma de obter orientação e incentivo para continuar evoluindo. Participar de treinamentos e workshops contínuos mantém seu conhecimento atualizado e alimenta sua curiosidade. Criar uma rede de apoio com colegas que compartilham a mesma mentalidade também pode oferecer suporte valioso. Além disso, estabelecer metas de aprendizado pessoal e profissional ajuda a manter o foco no desenvolvimento constante.

Histórias de superação são sempre inspiradoras e nos mostram que é possível resistir às pressões organizacionais. Um exemplo disso é Satya Nadella, CEO da Microsoft, que, ao assumir a liderança, fomentou uma cultura de aprendizado contínuo e inovação, incentivando seus colaboradores a adotar uma mentalidade de crescimento. 

Sheryl Sandberg, cuja performance como COO (executiva-chefe de operações) do Facebook ficou famosa, também é um exemplo de resiliência. Mesmo em uma posição de alta responsabilidade, ela sempre buscou aprender com seus erros e experiências, mantendo-se aberta a novas ideias e perspectivas. Esses exemplos provam que, com determinação e as estratégias certas, é possível manter a postura de aprendiz e prosperar em qualquer ambiente corporativo.

Neste janeiro de 2025, o quinquagésimo de minha vida, minha maior meta é nunca perder a vontade de aprender, de compartilhar e de transformar vidas. 

Meu desejo é que você também não permita que o conformismo e a pressão por resultados imediatos conduzam sua jornada à mediocridade. Evite lutar apenas para manter suas conquistas, pois isso pode sufocar o eterno aprendiz que reside em você. 

Sim, estas palavras podem parecer duras, mas são menos intensas do que o impacto de suprimir em si mesmo a vontade de aprender, crescer e transformar. O verdadeiro aprendizado é o que nos mantém vivos, úteis e com a capacidade de impactar positivamente a nossa vida, a vida dos outros e a sociedade.

Daniel Martin Ely
Daniel Martin Ely é vice-presidente executivo da Randoncorp, COO da Rands, conselheiro do CNEX (Centro de Excelência Humana e Organizacional) e do Instituto Hélice de Inovação e presidente do conselho do Instituto UniTEA do Autismo. Mestre em estratégias organizacionais e especialista no desenvolvimento de lideranças, é também autor da obra O Líder em Transformação (2024).

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