Diferentes métricas avaliam o desempenho nas temáticas ESG, mas variabilidade e especificidade das ferramentas de monitoramento podem confundir as organizações
Desde que a sigla ESG virou prioridade para gestores de empresas, fundos de investimento e consultorias, as organizações seguem em busca de indicadores padronizados que permitam comunicar ao mercado que elas estão fazendo o dever de casa. O desafio é que não há uma métrica única e consolidada para reunir informações que demonstrem o desempenho nas ações relacionadas às questões ambientais, sociais e de governança.
Mais do que isso, a variabilidade e a especificidade dos atuais indicadores ESG podem até confundir as companhias (veja abaixo a lista completa de frameworks). “As empresas hoje têm à disposição diferentes métricas ESG, o que não significa que estejam fazendo a coisa certa. A verdade é que o mercado ainda está patinando, sem saber muito como agir”, diz Claudinei Elias, CEO e fundador da Bravo GRC, consultoria em tecnologia para GRC e ESG.
Outra dificuldade é que itens ambientais, como pegada de carbono (cálculo da emissão total de gases de efeito estufa na produção, uso e descarte de produtos ou serviços), por exemplo, têm indicadores objetivos de avaliação. Temas relacionados a aspectos sociais, contudo, estão imersos em subjetividade. Então, o que fazer?
“Antes de tudo, é preciso olhar para dentro da empresa e verificar quais são os pontos relevantes em termos de impactos dentro do seu modelo de negócio”, destaca Elias. Assim, se a companhia emite uma carga significativa de gases de efeito estufa, possivelmente vai pensar em utilizar a métrica do Carbon Disclosure Project (CDP). Mas, caso esteja focada em reportar dados ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 ou ao Dow Jones Sustainability Indices (DJSI), talvez a melhor solução seja recorrer à Global Reporting Initiative (GRI). E assim por diante.
Na prática, é bastante comum que elas utilizem simultaneamente mais de um tipo de indicador ou métrica para aferir o desempenho nas questões ESG, o que confere ainda maior complexidade à missão de prestar contas ao mercado e aos stakeholders. Neste caso, o que ajuda é o grau de integração das diferentes áreas (relação com investidores, gestão de risco, responsabilidade social, logística reversa etc.) que tratam das temáticas ESG. Conforme Elias, a qualidade da orquestração das diferentes visões sobre as questões ESG dentro da organização depende do nível de maturidade da companhia.
Nem sempre dá para sair copiando o benchmark de empresas que, reconhecidamente, estão bem posicionadas na avaliação ESG. É o caso da Natura. “Ainda que seja do mesmo ramo, você não vai conseguir usar integralmente as métricas da Natura e achar que vai dar certo. Mas pode usá-las para questões estruturais, observando como é o relacionamento dela com as comunidades locais ou como ela internalizou esses valores na organização, algo que está conectado com um propósito”, sugere Elias.
Aliás, a internalização das temáticas ESG demonstra uma evolução da cultura organizacional. Uma das formas para alcançar o objetivo é incluir a avaliação do desempenho nas questões ESG no cálculo do bônus variável de remuneração dos executivos. “As companhias mais maduras já estão fazendo isso, partindo da ideia de que os profissionais também devem ter uma preocupação legítima com esses aspectos no exercício de suas funções”, afirma o CEO da Bravo GRC.
Seja como for, na perspectiva do capitalismo consciente, os investimentos ESG são imprescindíveis. Não adianta olhar apenas para o próprio bolso, gerando lucros milionários ou bilionários, sem levar em conta os impactos do negócio para a preservação do planeta ou o futuro da humanidade. A empresa que se comportar dessa forma corre sério risco de não mais existir amanhã.
“É uma questão de mindset. Muito em breve, 75% da riqueza global estarão nas mãos da geração Z, que não parece estar disposta a consumir produtos ou serviços de quem não está agindo corretamente”, afirma Elias.
Algumas das métricas e indicadores que as organizações podem utilizar para avaliar o desempenho no ESG:
Organização precursora no desenvolvimento de frameworks em ESG, funciona através de questionário preenchido em plataforma online, atualizado anualmente, com cerca de 100 questões. O CDP analisa as respostas e divulga análises, relatórios e scores de cada empresa, cidade e região, permitindo a utilização desses dados por stakeholders em suas tomadas de decisão.
Em português, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Formulados pela ONU, os 17 ODS reúnem mais de 230 indicadores, contemplando a sustentabilidade social, econômica e ambiental. Foram adotados pelos Estados membros da ONU em 2015, como parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que estabeleceu um plano de 15 anos para atingir os objetivos.
Organização internacional que auxilia empresas, governos, indústrias e instituições não governamentais na tarefa de relatar e comunicar os impactos de suas atividades sobre meio ambiente, economia e sociedade. O modelo trabalha com informações confiáveis e padronizadas para avaliar riscos e oportunidades, além de auxiliar no processo de tomada de decisão. Usado como avaliação das empresas para entrada no ISE da B3.
Fundada em 2003 por meio de parceria de ONGs como CARE, Conservation International, The Nature Conservancy, Rainforest Alliance e Wildlife Conservation Society, tem como missão estimular e promover atividades de gestão de terras para mitigar a mudança climática global, reduzindo a pobreza das comunidades e conservando a biodiversidade.
Força-tarefa instituída em 2015 pelo governador do banco da Inglaterra, Mark Carney, e por Michael Bloomberg, para ajudar investidores a compreender a exposição financeira ao risco climático e fazer com que as empresas divulguem informações sobre ESG de forma clara e consistente.
Criado em 2007 como framework específico para divulgação de informações ambientais e climáticas concisas e úteis para a tomada de decisão de stakeholders.
Desde 2011, facilita a interpretação e o poder de decisão de investidores, integrando aspectos socioambientais e de governança aos indicadores usuais das organizações.
Apontado como o framework mais completo e robusto, deriva de projeto do IBC (International Business Council), que reuniu CEOs de grandes empresas com o objetivo de alinhar os valores do business com os ODS da ONU.
Em setembro de 2020, as cincos principais organizações no desenvolvimento e padronização de frameworks e standards em ESG – CDP, CDSB, GRI, IIRC e SASB – uniram forças para criar um sistema integrado e padronizado de relatórios, associando dados financeiros ao disclosure de informações relacionadas ao ESG.
Parceria entre CDP, Pacto Global da ONU, World Resources Institute e World Wide Fund for Nature (WWF), tem como bandeira a campanha “Business Ambition for 1,5 °C”, que impulsiona ações direcionadas à redução da emissão de gases de efeito estufa para acelerar a transição para a economia do Carbono Zero em 2050, passando pela redução em 50% até 2030.
Saiba mais sobre todas as informações contidas neste artigo no Guia Rápido ESG: Referências Conceituais e Indicadores, produzido pela Bravo GRC.
O Fórum: Governança 4.0 é uma coprodução de MIT Sloan Review Brasil e Bravo GRC.“