Nove entre dez executivos da cadeia de suprimentos estão fazendo investimentos moderados a significativos em IA. O que isso significa para oportunidades de trabalho na cadeia de suprimentos?
Evolução no gerenciamento de riscos. Otimização de gestão de estoque. Fácil identificação de gargalos. A verdade é que uma ala inteira da ficção científica pode estar com os dias contados. Isso porque, na vida real, a interação homem-máquina promete um amanhã mais alvissareiro do que o gênero costuma pleitear. Pelo menos, quando o assunto é a escalabilidade dos negócios.
Segundo relatório divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, até 2025 a automação deve acabar com 85 milhões de empregos. Apesar disso, a expectativa é que sejam criadas 97 milhões de posições. Tecnologias da quarta revolução industrial, dados e inteligência artificial, computação em nuvem e desenvolvimento de produtos estão entre as áreas com maior propensão para alta demanda.
No setor de abastecimento e fornecimento, não é muito diferente. Para Patricia Feliciano, diretora executiva de talento & organização da Accenture para mercados emergentes e América Latina, a transformação digital também é positiva para os trabalhadores de logística. “Quando bem utilizada, a tecnologia tem o poder de nos tornar super-humanos. Especialmente, no setor de supply.”
Isso significa que a implementação de big data, blockchain, sistemas de gestão, softwares de integração, machine learning e inteligência artificial (IA) representa uma vantagem importante. Além de possibilitar a visibilidade da cadeia em tempo real, as tecnologias exponenciais aprimoram a força de trabalho humana. Afinal, sobra mais tempo para a execução de tarefas de alto valor.
De fato, alavancar a maturidade operacional implica na eliminação de funções transacionais. Porém, a redução de processos manuais não é sinônimo de dispensa de mão de obra. “Vamos precisar de novas funções e novas competências. Funções como pessoas que saibam escolher, treinar e/ou fazer manutenção das máquinas. Competências como análise de dados, empatia, inteligência emocional, entre outras”, argumenta Patricia.
Também há uma lógica de retroalimentação na relação entre tecnologia e seres humanos. O Walmart e a Unilever, por exemplo, lideram um programa piloto para descobrir maneiras melhores e mais inteligentes de preparar as pessoas para novos caminhos de carreira. Isso, com base nos seus interesses e habilidades.
O experimento mostra que a pessoa média tende a pensar que possui cerca de 11 habilidades. Quando a inteligência artificial (IA) mapeia aquele trabalhador, o número está mais próximo de 34. Dessa maneira, a IA permite que as pessoas tenham uma perspectiva diferente acerca do próprio rumo profissional, dentro ou fora da empresa.
Uma pesquisa recente da Accenture mostra que quase nove entre dez executivos da cadeia de suprimentos (86%) estão fazendo investimentos moderados a significativos em IA. No entanto, apenas 38% enxergam sua força de trabalho avançando nas habilidades reimaginadas que precisam para ter sucesso em um mundo digitalizado.
Para virar essa chave, é importante assegurar o acesso ao conhecimento a nível organizacional. Mesmo para empresas que buscam um trabalho altamente automatizado. Esse movimento parte, necessariamente, do C-level. Mas a autonomia distribuída entre colaboradores é o que leva a cultura adiante.
Qualquer estratégia que ajude a garantir a instrução pela experiência é válida. On-the-job training (OJT), desafios interativos, rodízios de funções e pílulas de conhecimento, por exemplo. “As pessoas que precisamos preparar para o futuro não existem na organização. Nem no mercado. Elas precisam ser formadas””, ressalta Patricia. “É através de novos repertórios e experimentando todos os dias que a gente começa a incorporar a prática na rotina.”
Os modelos operacionais também precisam mudar. A ordem é desenvolver o long term value – sempre orientado pelo propósito. “Tem um foco muito grande para tecnologia da automação, e um foco muito pequeno em preparar as pessoas para essa atuação”, explica Patricia. As empresas que conseguirem combinar a engenhosidade humana com o potencial das máquinas inteligentes estarão melhor posicionadas para atingir a agilidade competitiva necessária para vencer nos próximos anos.
Nesse sentido, o papel da liderança é fundamental. Criar fluxos de trabalho inteligentes se trata de uma responsabilidade dos executivos seniores da empresa. Isso porque a agenda de transformação demanda continuidade. É preciso deixar claro que esse movimento é evolutivo. Além de estabelecer modelos de trabalho onde se possa desenvolver competências constantemente. Isso inclui o oferecimento de trilhas de aprendizagem e a inclusão de todos no processo decisório.
Com certeza, muitas organizações já começaram a ensinar conceitos como inteligência artificial (IA), digital twins, a internet das coisas (IoT) e a nuvem. Ainda assim, o diferencial se encontra na capacidade de colocar o aprendizado em prática. Seja para resolver um problema ou transformar o negócio de maneira mais extensiva. “Você pode aprender um idioma para se comunicar. Usá-lo para escrever um poema é outra história. Para a agenda da fluência digital, a discussão é a mesma”, conclui Patricia.
O Fórum: Pensamento Digital é uma coprodução MIT Sloan Review Brasil e Accenture.“