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Como um modelo de negócio evolui: dados, nuvem, liderança

Evento da SAP Brasil trouxe executivos de iugu e Wickbold para compartilharem respostas à aceleração pandêmica

Angela Miguel
29 de julho de 2024
Como um modelo de negócio evolui: dados, nuvem, liderança
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Considerando as estimativas que apontam que 2020 representou cinco anos de aceleração do mercado, conforme apontado por Adriana Salles Gomes, diretora editorial da MIT Sloan Management Review Brasil, como as empresas devem tratar sua evolução de modelo de negócio nesta terceira década do século 21?

A nova edição do “Eixo Exponencial SAP – O futuro no agora: existe um caminho certo para os modelos de negócio?”, evento que a SAP Brasil realizou, em 4 de março último, trouxe essa resposta, ao menos em parte.

Os líderes de duas empresas que estão respondendo bem à crise pandêmica, a fintech iugu e a fabricante de pães industrializados Wickbold, respectivamente o CFO André Luiz Gonçalves e o CIO Leandro Roldão, foram sabatinados por uma bancada de entrevistadores durante quase duas horas, da qual Salles Gomes participou com outras jornalistas e com Mario Tiellet, especialista em transformação digital e vice-presidente de midmarket na SAP Brasil.

Mudanças rumo ao uso mais frequente e consistente de dados para tomar decisões, à computação em nuvem e a um perfil de liderança do tipo “comunicação e coaching” foram as principais respostas dadas pelos entrevistados, uma vez que todos esses fatores viabilizam a inovação com a agilidade exigida por um mundo dos negócios acelerado.

Informações para basear decisões

Se já estamos em 2025, o desafio pela frente fica naturalmente ainda maior do que o imaginado, ainda mais quando nos concentrarmos nos modelos de negócio. Porém, Roldão mostrou-se confiante de que dados ajudam a enfrentar esse futuro desafiador, citando especificamente os dados capturados nas mídias sociais e nas pesquisas que acompanham a evolução do comportamento do consumidor.

Novos produtos e serviços são e serão sempre demandados, segundo ele, basta que consigamos identificar essa demanda nos dados e inovar a partir deles. Como exemplo dessa ciência de dados, Roldão falou sobre o lançamento da linha Do Seu Forno, criada em 2020 e fundamentada nos dados de que muitas pessoas passaram a fazer pão em casa por conta do distanciamento social.

A iugu, que oferece uma plataforma de estruturação e automatização de operações financeiras e pagamentos para pequenas e médias empresas (PMEs), utilizou os dados para redirecionar seu foco B2B a um grupo específico de empresas.

Conforme contou Gonçalves, a fintech focou nas PMEs que estão investindo em e-commerce. Afinal, se os clientes dessas empresas passaram a comprar via comércio eletrônico, elas tinham de fazer a mesma migração, ou perderiam vendas durante a pandemia. A decisão com base em informações foi certeira.Uso e segurança

Hoje são muitas as informações disponíveis que podem ser coletadas com pesquisas, em redes sociais e por meio de outras frentes também. O segredo para uma estratégia bem-sucedida, de maneira simplificada, está em saber usar e proteger esses dados. Isso significa ter uma governança tal que permita usá-los de maneira ágil (leia-se “capacidade de análise”) e fazer com que o uso siga a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em 2020.

Como as duas empresas estão enfrentando os dois desafios? Quanto à privacidade, a iugu optou por um esforço concentrado para mapear todos os fluxos que envolvessem dados pessoais de clientes, colaboradores e terceiros, e por utilizar tecnologias para garantir a proteção na letra da lei. Já a Wickbold desenhou e estruturou tudo em conformidade com a LGPD.

Quanto ao uso, agora a Wickbold entra na fase de entender de fato os dados para considerar o que será efetivamente utilizado. Segundo Roldão, é por meio de analytics que a equipe pretende transformar informações relevantes em estratégias. André Gonçalves, por sua vez, destacou que todas as transações hoje – inclusive todos os sistemas proprietários da iugu que operam o sistema transacional – ocorrem em base criptografada. Na prática, isso significa que não circulam dados pessoais entre os participantes das cadeias de pagamento, mas, sim, hashes que identificam transações mediante inserção.

A conquista da nuvem

Cloud computing também teve seu valor mais reconhecido nas duas empresas, em especial durante a aceleração pandêmica. Toda a operação da iugu já está em nuvem; na Wickbold, todos os equipamentos. Não é uma nuvem privada; há contratação de parceiros. “Somos uma empresa de alimentos, e não de TI”, destacou Roldão, que é um CIO.

“Quando decidimos investir num ERP (sigla em inglês de sistema de gestão empresarial), a iugu optou também pelo serviço na nuvem. Isso nos traz uma situação em que não exige espaço físico, pessoas e tempo dedicado de nossas equipes para infraestrutura”, pontuou Gonçalves, que também atua em parceria – com a SAP Brasil.

Há ainda outras vantagens na utilização de cloud computing, como segurança, maior estabilidade da operação e possibilidade de escalar mais facilmente o negócio, evitando manter uma infraestrutura grande para atender meses de pico de demanda, e lidar com a ociosidade nos momentos de baixa. Roldão e Gonçalves celebraram também que a nuvem deu fim às preocupações com equipamentos obsoletos, algo comum quando a infraestrutura estava dentro de casa.

Liderança future-ready

A busca por um perfil de liderança diferente foi a terceira medida tomada por iugu e Wickbold para responder à aceleração de 2020. A diretora da MIT Sloan Review Brasil citou estudo do centro de pesquisas MIT CISR sobre empresa future-ready – com prontidão para o futuro –, que tem pautado empresas globais. Como, no recorte brasileiro do estudo, ficou claro que os líderes brasileiros ainda atuam demais no modelo “comando e controle”, retardando as mudanças necessárias às companhias, Adriana Salles Gomes perguntou como era a lideranças nas empresas dos entrevistados – incluindo eles mesmos como líderes.

Roldão disse que, na tradicional Wickbold, a liderança ágil, que dá autonomia aos times, tem sido focada. “Entendemos que, no conceito de inovação, a tomada de decisão é importante. Pela metodologia ágil, as pessoas que participam de um projeto precisam ter tomada de decisão – até para que o processo ‘ágil’ seja ágil. E é prevista também para a inovação”, observou. A autonomia é essencial para as pessoas “saírem fora da caixa”.

Nas palavras de Roldão, “as ideias têm de ser colocadas e não podem ser podadas. O ‘comando e controle’ não pode existir para não podar a criatividade das pessoas”. Na iugu, que nasceu startup e tem nativos digitais, a liderança tem sido desde sempre do tipo ‘comunicação e coaching’, como observou Gonçalves.

Os dois entrevistados concordaram que qualquer empresa, ao pensar em futuro, deve responder com inovação – e que, invariavelmente, isso passa pela liderança. Líderes que saibam delegar adequadamente, dando poder de decisão para as pessoas nas pontas e garantindo sua autonomia, terão equipes mais ágeis. Esses líderes também estimulam a diversidade de colaboradores, humanizam o relacionamento com eles, pensam nos diversos stakeholders “ecossistemicamente” e dentro das premissas de ESG. A inovação é consequência.

Relação aceleração e resiliência

Por que iugu e Wickbold estão conseguindo responder bem à aceleração de mudança (estimada em cinco anos) ocorrida durante em 2020? Por todas as razões citadas – dados, nuvem, liderança –, mas talvez por uma razão anterior a estas, que diz respeito à cultura organizacional de cada uma e à mentalidade de seus líderes. Quem chamou a atenção para isso, no encerramento do evento, foi Mario Tiellet, o VP de midmarket da SAP Brasil.

Embora sejam negócios bem diferentes – Wickbold é industrial, iugu, de serviços financeiros; um é B2B2C e o outro, B2B; um é tradicional, o outro, startup –, as organizações, de acordo com Tiellet, têm em comum a resiliência. Só “empresas resilientes conseguem olhar para o mercado e reagir com transformação”, nas palavras do executivo da SAP Brasil. Ou seja, se sua companhia ainda não for resiliente, fica a dica para mais uma lição de casa, além de todas as outras listadas aqui. Vale a pena não demorar para agir, porque ninguém sabe se, em 2021, viveremos mais cinco anos em um.

Saiba mais sobre disrupções no mercado por meio de nossas newsletters.”

Angela Miguel
Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas MIT Sloan Management Review Brasil e HSM Management.

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