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Potencializando a migração para a nuvem

Muitas empresas ainda adotam uma abordagem de modernização tecnológica no automático, como mera mudança de infraestrutura. Elas não consideram fatores internos extremamente importantes para tirar o melhor proveito de todos os benefícios que as nuvens públicas podem oferecer; sete passos podem alavancar a tecnologia

João Lucas Santana
João Lucas Santana
11 de setembro de 2024
Potencializando a migração para a nuvem
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Com o surgimento dos serviços de nuvem pública no início dos anos 2000, membros do corpo executivo de grandes empresas começaram a questionar suas lideranças de tecnologia sobre a necessidade de migrar seus ativos tecnológicos de data centers próprios (on-premises) para as então recentes nuvens públicas, dando início à agenda de modernização do parque tecnológico dentro das empresas.

Externamente, ao participar de fóruns executivos, eventos de tecnologia e eventos focados em indústrias específicas, essas lideranças de tecnologia se viram em meio a um cenário onde grande parte de seus pares e concorrentes já operavam parte de seus workloads em nuvens públicas, aumentando ainda mais a sensação de que “somos a única empresa deste segmento que ainda não está operando na nuvem” e “é preciso migrar para a nuvem de qualquer maneira”.

Soma-se a isso o fato de que startups, que não têm o peso de ativos tecnológicos legados, já nascem operando nesse novo ambiente, conseguindo lançar novos produtos de maneira muito mais rápida, com melhores experiências para seus clientes e com gastos operacionais mais baixos, além de utilizarem o benefício de um baixo capital de investimento inicial que as nuvens públicas trazem. 

Essas empresas nativas digitais de fato são bons exemplos de como utilizar o modelo de operação baseado em nuvens públicas para obter resultados de negócios melhores que seus competidores.

Todos esses fatores fazem com que muitas empresas ainda adotem uma abordagem de modernização tecnológica sem considerar fatores internos extremamente importantes para tirar o melhor proveito de todos os benefícios que as nuvens públicas podem oferecer. Algumas delas seguem simplesmente um caminho de “migração de infraestrutura”, movendo seus ativos tecnológicos de um data center para outro, sem considerar processos internos, alterações em estruturas organizacionais e modelos de operação, que são fundamentais para uma “migração para a nuvem” bem-sucedida.

Neste artigo, abordo alguns pontos importantes a considerar nessa jornada para a nuvem, trazendo aspectos tecnológicos, culturais, de processos e de gestão, apontando a modelo operativo referência.

UM PROCESSO DE SETE ETAPAS

Embora sejam termos frequentemente utilizados de maneira intercambiável, existem diferenças importantes entre migração de infraestrutura e migração para a nuvem. 

Essas diferenças vão desde novos modelos de trabalho, utilizar processos automatizados para engenharia de software, buscar ciclos de feedback curtos, e a colaboração estreita entre as áreas de negócios e tecnologia.

1. “Lift-and-shift” como um primeiro passo.

É comum que empresas estabelecidas, com um parque tecnológico com décadas de operação, adotem inicialmente uma abordagem “lift-and-shift”. Nesta estratégia, opta-se pelo menor impacto possível para migrar servidores e aplicações para uma nova infraestrutura em nuvem pública, visando reduzir custos e a sobrecarga operacional de manutenção de data centers. Executando a migração de workloads para nuvens públicas rapidamente, as empresas buscam usufruir dos benefícios comerciais e dos serviços inovadores oferecidos pelos provedores de nuvem. Embora essa abordagem não esteja equivocada, é crucial que seja apenas o primeiro passo na jornada de modernização empresarial, para que a evolução não pare apenas na etapa de migração de infraestrutura.

Para poder efetivamente integrar novas capacidades tecnológicas nas experiências digitais, como capacidades analíticas ou recomendações baseadas em inteligência artificial e machine learning, será necessária alguma forma de intervenção profunda nas aplicações existentes. Mais cedo ou mais tarde, tais aplicações deixarão de ser tratadas como “caixas opacas” e necessitarão passar por modernizações internas, como redesenho arquitetural (rearchitect) ou atualizações de lógicas de implementação (refactor).

2. Modelo de trabalho: “você constrói, você opera”.

Outro aspecto importante é o modelo de operação dentro dos departamentos de tecnologia. Muitas empresas possuem contratos multimilionários com soluções de nuvem, mas mantêm divisões rígidas entre as áreas de desenvolvimento e operação de produtos de software. 

Há algumas décadas, um dos principais provedores de nuvem definiu um novo modelo de produção e operação de software como “you build it, you run it”. O mote tem servido como um guia para empresas maximizarem a eficiência e qualidade na produção de software, mantendo a estabilidade operacional e a satisfação dos usuários de produtos digitais. Atualmente, os principais provedores de nuvem oferecem soluções robustas para alinhar tais áreas, definindo e medindo SLOs (objetivos de nível de serviço, na sigla em inglês) e SLIs (indicadores de nível de serviço) para criar incentivos comuns e reduzir o antigo problema de “jogar as coisas para o outro lado do muro”, em que uma área faz parte do trabalho e passa a responsabilidade para outra.

3. Processos de engenharia e automação.

Em empresas acostumadas a operar suas aplicações em data centers privados com infraestrutura física tradicional, é comum que profissionais de tecnologia executem tarefas manuais de provisionamento de servidores e instalação de software. Esses profissionais às vezes sabem de cabeça quais softwares estão instalados em quais servidores, em quais versões e até mesmo os identificadores de cada servidor (endereços IP). 

Essa abordagem, além de pouco escalável, gera o que chamamos de “servidores flocos de neve” (snowflake servers, diz-se em inglês), o que ocorre quando cada servidor se torna uma peça única, impossível de replicar em outro ambiente se necessário.

Algumas empresas, ao realizarem uma “migração de infraestrutura” para a nuvem pública, tendem a replicar essas mesmas práticas no novo ambiente, normalmente utilizando uma interface web fornecida pelas soluções de nuvem ou nos mesmos moldes antigos de acesso remoto via SSH (uma sigla em inglês para protocolo de segurança de troca de arquivos entre cliente e servidor de internet). 

No entanto, em uma migração para a nuvem, é essencial adotar processos automatizados para a criação de infraestrutura. Práticas do tipo “infraestrutura como código” (IaC, na sigla em inglês) são fundamentais para entregar software de maneira contínua, segura e confiável, mesmo que o software em questão seja a própria infraestrutura na nuvem.

4. Times multifuncionais

Uma migração para a nuvem oferece a oportunidade de integrar fortemente áreas de negócio e equipes de tecnologia. Com o vasto conjunto de soluções e serviços disponíveis nas plataformas de nuvem, pessoas de negócios podem trabalhar diretamente com as equipes de tecnologia, tomando decisões de negócios em tempo real com base em dados. 

(Pessoas de negócios geralmente são representadas por product owners, product managers e business experts; equipes de tecnologia, por desenvolvedoras de softwares, analistas de qualidade, engenheiras de dados.) 

Essas decisões podem ser implementadas rapidamente (nas iterações subsequentes) pelo time de engenharia de software, uma vez priorizadas pelos próprios representantes do negócio.

Essa mudança na estrutura dos times, com representantes de tecnologia e negócio, reduz significativamente o tempo necessário para que uma ideia de negócio seja validada, implementada e entregue aos usuários finais de maneira escalável e com qualidade. Empresas que migram seus workloads para a nuvem, mas não repensam suas estruturas de times e responsabilidades, acabam não aproveitando todos os benefícios das nuvens para melhorar seu time-to-market, pois as barreiras comunicacionais entre as distintas áreas da organização continuam existindo, dificultando o processo de tomada de decisões.

5. Modo agile de trabalhar.

Ter as capacidades da nuvem disponíveis para uso mas continuar com longos ciclos de entrega de software (de meses ou anos) é outro fator que caracteriza empresas que apenas migraram a infraestrutura. As nuvens modernas trazem ferramentas e habilitam processos de entrega de software contínua, de forma iterativa e incremental. Elas oferecem soluções para lançamentos segmentados e graduais, evitando os riscos dos famosos lançamentos big-bangs.

(Esses releases, como se diz no meio, eram muito usados no passado, quando grandes volumes de mudanças eram liberados de uma só vez para todos os usuários.)

6. Outputs versus outcomes.

Outro fator diferencial quanto ao modelo de operação das empresas que executam migração para cloud está relacionado a como medem os avanços das iniciativas. O modelo mais tradicional é medir apenas o resultado imediato dos processos de desenvolvimento de software; por exemplo, que determinado escopo foi entregue em uma determinada data, sem medir necessariamente o impacto gerado por essa entrega.

Empresas que operam na nuvem, além de medir os resultados, também medem o impacto desses resultados no negócio, na satisfação dos usuários finais, na experiência dos clientes e parceiros estratégicos. No fim das contas, esses impactos se traduzem em aumento de receita, eficiências operacionais ou cumprimento de regulações.

As nuvens atuais já trazem ferramentas com capacidades analíticas muito potentes para acompanhar e direcionar tais impactos habilitando repriorização de iniciativas de maneira contínua. Algumas empresas ainda vão além, e incorporam capacidades em seus produtos de forma a retroalimentar seus processos, utilizando técnicas como machine learning e inteligência artificial para definir preços de maneira dinâmica, oferecer promoções a segmentos de usuários mais propensos a efetuar compras, bem como outros recursos.

7. Talento.

Como organizações são formadas fundamentalmente por pessoas, este fator não poderia faltar na evolução entre um modelo de operação tradicional para um modelo baseado na nuvem. Organizações que operam na nuvem tendem a seguir um padrão de learning organization, em que a adaptabilidade é incentivada, os colaboradores contam com ambientes para compartilhar conhecimentos e a melhoria contínua é o motor da inovação. 

Para apoiar essa evolução do talento organizacional, as principais soluções cloud trazem ferramentas que auxiliam em muitos desses aspectos, com ambientes de aprendizagem sempre disponíveis, ferramentas de colaboração e troca de informações de maneira eficiente e segura, além de estarem continuamente lançando serviços que possibilitam novas formas de resolver problemas de negócio. 

A rápida incorporação de capacidades de inteligência artificial nas principais ofertas cloud é um exemplo recente desse apoio à inovação.

A MIGRAÇÃO PARA A NUVEM REPRESENTA desafios e oportunidades significativas para empresas transformarem seus modelos operacionais, tecnológicos e culturais, adotando práticas que promovem eficiência, inovação e agilidade. No entanto, para colher os benefícios plenos dessa transformação, é essencial ir além de uma simples mudança de infraestrutura e considerar uma abordagem holística que inclua modernização tecnológica, integração de times multifuncionais, automação de processos e desenvolvimento contínuo de talentos. A jornada para a nuvem é um processo contínuo de adaptação e aprendizado, onde a capacidade de evoluir e inovar define o sucesso no cenário competitivo atual.

João Lucas Santana
João Lucas Santana
Diretor de tecnologia para os mercados de serviços financeiros e transportes aéreos na Thoughtworks América Latina

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