O pouco caso com a estratégia no século 21, e no Brasil em particular, acende um sinal de alerta: nunca antes a estratégia foi tão importante como agora. Mas ela mudou, como mostram os highlights de um livro de Silvio Meira
O que é estratégia?
Referência em tecnologia da informação, empreendedorismo inovador e transformação digital no Brasil, o professor Silvio Meira tem se dedicado ultimamente ao estudo da estratégia. Justamente o tema ao qual, só entre 2010 e 2019, foram publicados ao menos 31.000 livros no mundo, segundo o catálogo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. Agora, 31.001, incluindo o seu O que É Estratégia? Não é por acaso.
Meira entende, de um lado, quanto vem mudando o contexto em que atuam as organizações (e aqui vamos focar nas empresas especificamente) – e que contexto “afeta e muitas vezes define a estratégia”, como ele escreve no e-book que dedicou ao tema. Para dizer o mínimo sobre o novo contexto, vimos, do auge da pandemia em 2020 para cá, a aceleração de um novo modo de operar os negócios, que é físico, digital e social – ou “figital”. E o resultado é que agora temos de lembrar a todo instante que mercados e negócios estão sempre em fluxo, bem como sempre funcionando em redes e ecossistemas.
De outro lado, Meira vem observando no Brasil, com suas múltiplas lentes (de investidor em startups, membro de conselho de administração, consultor de transformação digital de empresas incumbentes e professor, para citar algumas), que, cada vez mais, “onde se diz que há uma estratégia, o que existe são apenas aspirações, ou declarações de interesse”. A maioria das decisões que as pessoas e instituições tomam não tem nenhuma base formal ou densidade, segundo ele. Não o surpreende, portanto, que a dita estratégia nunca seja executada.
1 comentário
É interessante – senão essencial – considerar que, além do letramento frágil sobre Estratégia (na concepção e na codificação em planos), Líderes e demais e profissionais vivenciam grande dificuldade em sua execução e monitoramento.
No que diz respeito ao letramento (concepção e codificação em planos): não basta compreender conceitos e estar habilitado a refletir criticamente sobre competências, ecossistemas, projeções e cenários, futuros possíveis, dentre outros – há de compreender e saber executar uma abordagem metodológica para a construção da estratégia. E digo isso em termos práticos: pode onde se começa? Quais são os principais passos e entregas? Quem participa, quando e como participa? Sem uma abordagem pragmática e estrutura, as discussões correm o risco de, efetivamente, conectar nada a lugar nenhum.
No que diz respeito à execução: a concepção e a codificação da estratégia precisam estar, necessariamente, acompanhados da alocação validada de recursos: financeiros, estruturais, tecnológicos, informacionais, sociais – e da alocação de pessoas qualificadas e habilitadas a executar a estratégia (nos aspectos cognitivo, operacional e atitudinal).
No que tange ao monitoramento: a gestão carece de registros, de mensurações, de análises críticas, de abertura e flexibilidade para ajustes e correções de rota, em tempo real. Registros, mensurações e análises críticas, por sua vez, carecem de sistemas, plataformas – e podem ser potencializados, hoje, pelas tecnologias de IA. As decisões das análises críticas, e seus consequentes ajustes e correções de rota carecem de humanidade, e humanidade precisa de consciência sobre suas heurísticas e vieses, bem como conhecimento elaborado de contexto e gestão, para que boas decisões sejam tomadas.
Conceber e fazer estratégia é tarefa trabalhosa e complexa, mas indispensável às organizações contemporâneas. Não há garantias de sucesso – como qualquer coisa na vida – mas há potencialização de triunfo.