
Está em construção um novo paradigma de gestão pessoal para viver mais; trata-se de viver bem
A longevidade não é um acaso. É uma construção.
O best-seller Outlive, do médico e pesquisador Peter Attia, está sendo uma febre – no bom sentido – no meio executivo brasileiro. Tanto que ele vem falar aos gestores no evento executivo HSM+ no final do ano. Qual a razão do sucesso? Attia foi muito feliz em traduzir a mudança profunda de mentalidade em curso: trata-se de abandonar a lógica da “medicina tardia” — aquela que entra em cena quando a doença já está instalada — e adotar o que eu chamo de “medicina 3.0”, uma abordagem proativa, personalizada e centrada na prevenção.
A mudança é profunda porque a mudança de objetivo é profunda. Não significa mais apenas viver mais anos (lifespan, como se diz em inglês), e sim estender o tempo de vida com saúde plena — o healthspan —, unindo bem-estar físico, mental e emocional. Usufruir do que ele denomina de “décadas bônus”. Citando-o: “Não basta viver mais. Queremos viver melhor, com autonomia, clareza cognitiva e qualidade de vida até o fim.”
A seguir, detalho o tema, que deve interessar a todos nós tanto quanto nossas carreiras e as grandes decisões de negócios relacionadas com inovação, inteligência artificial, estratégia, transformação etc.
A medicina 3.0 nos convida a abandonar o papel de passageiro e assumir o comando da jornada de saúde. “Na medicina 3.0, você não é passageiro; você é o capitão do navio”, escreve Attia.
É um chamado à ação: fazer hoje o que será necessário para brincar com os netos no chão aos 80, subir escadas aos 90, manter independência aos 100. Em outras palavras, é um convite a pensar a saúde como se pensa a carreira: com estratégia, clareza de objetivos e planejamento de longo prazo.
Attia chama de “quatro cavaleiros” (do apocalipse?) as principais causas de morte e declínio funcional na maturidade: doenças cardiovasculares, câncer, doenças neurodegenerativas e diabetes tipo 2.
O ponto crítico? Essas doenças começam décadas antes dos sintomas — e a maioria só reage quando já é tarde.
É preciso antecipar. Atuar antes. Repensar a trajetória da saúde como planejamos uma carreira ou um negócio inovador. Com visão de futuro, metas claras e decisões estratégicas.
Não sei qual é sua história, caro leitor, mas compartilho a minha. Aos 50 anos, eu era sedentária, trabalhava em excesso e evitava médicos — como se fosse invencível. Em meu primeiro check-up, ouvi uma pergunta simples:
— Como você quer chegar aos 60, 70, 80, 90 anos?
Minha resposta foi imediata:
— Quero estar saudável, ativa e andando pelo mundo.
E o médico retrucou:
— Com esse estilo de vida, esse plano é improvável.
Foi um choque — e o início de uma jornada. Comecei a mudar, com altos e baixos. Aos 56, uma crise de estresse me levou à exaustão total. Foi o ponto de virada. Entendi que não bastava saber: era preciso levar a sério o estilo de vida como remédio.
Aos 58, iniciei meus estudos em Medicina do Estilo de Vida. Hoje, aos 62, tenho mais saúde física, mental e emocional do que aos 50. Aprendi que nunca é tarde para mudar. E que o corpo responde quando cuidamos com intenção e consistência.
… e a medicina do estilo de vida (MEV) é o caminho para implementar esse indicador-chave de desempenho. E como essa métrica sinaliza um bom desempenho? Contabilizando ação deliberada em cinco domínios táticos — apontados por Peter Attia como fundamentais, e alinhados com os seis pilares da medicina do estilo de vida, como venho abordando em colunas anteriores.
Aqui está a convergência prática entre as duas abordagens:
Exercício físico: apontado por Attia como o “medicamento mais poderoso da longevidade”, é também um dos seis pilares da MEV — com evidências sólidas de impacto na expectativa de vida, na função cognitiva e na saúde mental.
Alimentação inteligente: tanto em Outlive quanto na MEV, a nutrição é tratada como eixo central — não com modismos, mas com foco em qualidade, equilíbrio energético e resposta individualizada.
Sono reparador: Attia o chama de “doping lícito para o cérebro”; na MEV, o sono de qualidade é um pilar essencial para a restauração fisiológica, o equilíbrio hormonal, saúde mental e o manejo do estresse.
Saúde emocional: ambos os modelos reconhecem que não há longevidade com qualidade sem bem-estar psíquico. A MEV traz ferramentas como mindfulness, manejo de estresse, valorização das conexões sociais e propósito de vida como estratégias-chave.
Saúde metabólica: é um elo direto entre Attia e a MEV. A disfunção metabólica é o “terreno tóxico” onde os quatro cavaleiros se desenvolvem — e a MEV atua justamente na prevenção, controle, e até reversão em alguns casos, dos quatro cavaleiros , com abordagem integrada e personalizada.
Mudar o estilo de vida não é tarefa fácil — e Attia reconhece isso. Não se trata de buscar soluções mágicas. É preciso adotar uma nova forma de pensar a saúde, enxergando cada escolha como uma tática alinhada a um objetivo maior: viver com vitalidade até o fim.
O objetivo não é evitar a morte, mas postergá-la com qualidade, garantindo que as décadas “bônus” da vida sejam marcadas por plenitude e autonomia — e não por declínio e sofrimento.
Estamos falando aqui não apenas de uma nova ciência da longevidade. Trata-se de uma nova cultura do cuidado. Uma nova narrativa sobre envelhecer. E o convite, do Attia e meu, é claro:
Não seja passageiro. Torne-se o capitão do seu futuro. Afinal, healthspan é uma construção intencional — e começa agora.