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Além da produtividade: o papel dos hobbies na saúde mental e no potencial criativo das mulheres

Entre a sobrecarga invisível e a crise de saúde mental, criar espaços para a expressão e autonomia das mulheres é uma responsabilidade coletiva

Tamy Freitas
Além da produtividade: o papel dos hobbies na saúde mental e no potencial criativo das mulheres
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Não é raro ouvir a história do marido que tem “o dia do futebol” — um dia sagrado da semana em que ele se reúne com os amigos para jogar, se exercitar e depois ainda esticar no churrasquinho, comentando a partida e, claro, fazendo paralelos com o seu time do coração.

Às vezes, essas partidas semanais fazem parte de algo maior, que pode levá-los a torneios e campeonatos aos sábados pela manhã, quando recebem uma torcida especial: esposa e filhos vibrando pelo papai atleta.

Outro dia, me peguei pensando o oposto: quão comum é uma mulher ter sua prática esportiva protegida e valorizada do mesmo jeito? Um dia só dela. Um momento em que a família se organiza para não depender da sua presença, em que ela possa chegar em casa quando todos já estão dormindo — sem culpa. Um dia em que ela prioriza alguma atividade pessoal, que não seja voltada ao servir.

Me pareceu até utópico. Quão comum é a família se reunir para assistir, vibrar e torcer pela mulher em alguma atividade que ela mantém com regularidade e interesse? Mas isso precisa mudar.

Em um país que ocupa o segundo lugar mundial em índices de burnout, ignorar a importância do descanso e do lazer deixou de ser uma opção, independente de gênero — este é um recado para as empresas, mas não só para elas.

Com a entrada em vigor da nova NR-1, que altera a Norma Regulamentadora 1 (NR-1) em 2025, as organizações serão obrigadas a mapear e gerir riscos psicossociais no ambiente de trabalho. E no caso das mulheres, garantir espaços reais de desconexão e cuidado vai além do cumprimento legal e da fiscalização nos espaços profissionais: exige um esforço coletivo, das organizações, das redes familiares e comunitárias. Afinal, as mulheres são as mais afetadas pela sobrecarga doméstica e emocional. Preservar tempo livre para práticas de lazer e autocuidado surge como uma estratégia vital para a saúde mental, a inovação e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. 

Usei o esporte como um exemplo acima, mas poderia ser outra atividade, como cerâmica, leitura, bordado, jardinagem ou videogame. Qualquer prática que nos permita sair do modo “produção e cuidado” para acessar outro espaço: o do prazer desinteressado, do tempo que é só nosso.

Apoiar essas pausas não é apenas cuidar de quem cuida: é investir em talentos mais criativos, resilientes e plenos.

Um artigo recente da Universidade Presbiteriana Mackenzie defende a inclusão desses momentos de pausa na vida das mulheres como forma de reduzir a tensão acumulada por compromissos e afazeres. Diversos estudos já mostram que envolver-se regularmente em atividades de lazer reduz o cortisol — o hormônio do estresse. Foi aí que me peguei pensando no bem que isso faria às mulheres, especialmente às que lideram os rankings de doenças psicossomáticas: 72% dos pacientes que chegam com essa queixa no SUS são do sexto feminino, segundo o Ministério da Saúde.

Outro estudo britânico mostrou que 96% das mulheres se sentem culpadas pelo menos uma vez por dia — e metade delas mais de quatro vezes diariamente. A culpa volta à cena quando se cogita fazer algo que não seja produtivo, útil ou validado socialmente. Como se fazer uma pausa precisasse ter um propósito claro.

Criatividade e foco começam fora do expediente

Então vamos falar na linguagem da produtividade? Para quem ainda torce o nariz quando ouve a palavra “hobby”: mais do que simples passatempo ou lazer, essas atividades recreativas desempenham um papel fundamental na regeneração do imaginário, da criatividade e até no desempenho profissional.

Especialistas indicam que hobbies ajudam a aprimorar habilidades como disciplina, criatividade e capacidade de resolver problemas — capacidades muito valorizadas no mercado de trabalho. Dados do Massachusetts General Hospital reforçam que a prática regular de atividades físicas melhora a concentração, reduz o estresse e aumenta a disposição para enfrentar os desafios diários. Quando realizadas em grupo, essas práticas ainda fortalecem a comunicação, a resiliência e o senso de pertencimento.

No campo das artes, os benefícios são ainda mais evidentes. Pintura, escrita e culinária ajudam a desenvolver a flexibilidade cognitiva, aquela capacidade tão valorizada em qualquer ambiente profissional, que nos permite adaptar pensamentos e comportamentos para lidar com situações novas ou inesperadas de forma criativa. 

Andréa Felgueiras, gerente de marketing para atração de talentos do ManpowerGroup Brasil, reforça: “Criatividade não é apenas um talento inato, mas uma competência que pode ser desenvolvida e aprimorada. Hobbies são ferramentas eficazes para isso.”

Mas de onde tirar tempo? Você deve estar se perguntando.

Segundo o Instituto Locomotiva, 6 a cada 10 brasileiros afirmam não ter nenhum momento de ócio ou tempo livre durante a semana. Apenas 14% se permitem parar para simplesmente não fazer nada. O que nos leva a refletir sobre a supervalorização da produtividade em detrimento do bem-estar e da saúde física e mental.

Um estudo realizado pelo Instituto Ipsos, encomendado pelo Nubank, mostrou que os brasileiros têm, em toda a sua vida adulta, apenas 26% de seu tempo livre — o equivalente a 15 anos. E as mulheres têm ainda menos. Em 2022, elas dedicaram 9,6 horas por semana a mais que os homens aos afazeres domésticos e ao cuidado com outras pessoas.


“Criatividade não é apenas um talento inato, mas uma competência que pode ser desenvolvida e aprimorada. Hobbies são ferramentas eficazes para isso.” Andréa Felgueiras, gerente de marketing para atração de talentos do ManpowerGroup Brasil

É fato que vivemos tempos em que desafios econômicos, sociais e ambientais colocam à prova nossa capacidade de encontrar alternativas para lidar com realidades cada vez mais complexas e ameaçadoras. Isso sem falar nos distúrbios psicossociais — uma crescente que já é considerada uma epidemia e que precisou virar lei para chamar a atenção das empresas sobre o sofrimento causado por jornadas exaustivas e expectativas desumanas.

Mais do que uma trend ou válvula de escape, os hobbies representam um potencial real de pausa, respiro e reconexão com outras formas de expressão. Estimulam a criatividade, formam indivíduos mais plenos e autênticos, que desfrutam de outros saberes, que se conectam com partes de si pouco exploradas e que criam não a partir de uma lógica produtivista, mas de uma lógica experimentativa.

Por isso, eu convido você — especialmente você, mulher — a fazer um pacto consigo mesma: com a mesma disciplina que aplica em tantas outras responsabilidades, separe ao menos uma hora da sua semana para experimentar algo novo ou retomar algo que você gosta. Faça disso um compromisso inadiável.

Nesse tempo, experimente algo novo ou resgate um desejo antigo. Experimento uma prática manual (quem sabe cerâmica), um esporte (sem finalidade estética), um instrumento (aquele que você ama, mas nunca pôde priorizar). Desenhe sem pretensão. Jogue. Dance. Cozinhe só para você. Ou, simplesmente, caminhe em silêncio. Longe das telas, das exigências e dos cronogramas… Talvez você encontre não só um novo hobby — mas um pedaço esquecido de si mesma.

Tamy Freitas
Tamy Freitas é especialista em aprendizagem organizacional e liderança feminina e embaixadora do "Sinapses", programa do CNEX dedicado a despertar a potência da liderança feminina, bem como o apoio mútuo e a coletividade como caminhos para a ascensão das mulheres no mercado de trabalho. Há mais de uma década, atua no campo da educação corporativa, desenhando jornadas de aprendizagem para escolas criativas e algumas das maiores empresas do país.

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