Marcas brasileiras investem em ferramentas como chatbots inteligentes, machine learning e IA generativa para melhorar processos, atender com mais rapidez e até criar embalagens
“O hambúrguer é bom”, diziam os clientes, “mas demora muito para chegar”. Ouvir essa reclamação tirava o sono de Durval Dias, sócio da hamburgueria Gula Burger, de Jacobina (BA). Para frear as queixas e a queda nas vendas, ele fez mais do que reforçar a cozinha: investiu em um sistema de inteligência artificial (IA).
A empresa adotou um “um robô inteligente” – que é como Dias chama o sistema de respostas “humanizadas” que opera via WhatsApp. Segundo o empreendedor, o investimento deu certo. A Gula Burger teve um crescimento de 30% nos pedidos. As entregas também aceleraram: agora, a maioria é feita em até 30 minutos.
Investimento parecido foi feito pela rede Frango no Pote, especializada em frango frito. A empresa diz que a aplicação de IA e outras tecnologias representa uma “revolução significativa em termos de eficiência operacional, experiência do cliente e maximização de receitas”.
Usando plataformas como Zendesk e ChatGPT, a Frango no Pote criou um chatbot para dar fluidez aos processos de atendimento presencial e delivery. Segundo seu CEO, Carlos Júnior, a tecnologia reduziu em 30% o tempo de atendimento. “Usamos a inteligência artificial para ganhar tempo. Não acho que a IA surgiu para substituir o trabalho de ninguém, mas para usar em benefício próprio e viabilizar novos processos”, diz.
Ouça também o podcast “He, himself and AI”, com Sam Ransbotham
“A IA já chegou ao setor e tem sido utilizada para ganhos de eficiência no backoffice, no atendimento aos consumidores e na análise de dados’’, comenta Tom Moreira Leite, presidente e sócio do Grupo Trigo (controladora das marcas China In Box, Gurumê, Koni Store, LeBonton e Spoleto) – que anunciou que, nos próximos cinco anos, usará IA para aprimorar seus serviços e melhorar a experiência dos clientes.
Também à frente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), principal entidade do setor, Leite afirma que as franquias estão em fase de planejamento para aplicar as novas tecnologias – inclusive nos trâmites com os franqueados.
Como em outros setores, no franchising existe a crença de que a adoção de novas tecnologias pode trazer benefícios como redução de custos, ganho em eficiência e melhoria do atendimento aos consumidores. “Lançamos um olhar mais profundo para a transformação digital no ano passado, fazendo mudanças no jeito de comunicar, vender e ofertar nossos produtos aos clientes”, conta Eduardo Guerra, diretor de expansão e novos negócios da Giraffas.
O projeto é gradual e está em fase de teste na rede de fast food. Começou por dez das quase 400 unidades da Giraffas, que receberam monitores de TV que informam o status do pedido, totens de autoatendimento e a utilização de PWA (Progressive Web App), que oferece uma experiência semelhante à de aplicativos, mas sem a necessidade de download. Em longo prazo, a intenção do Giraffas é adotar ferramentas de inteligência artificial tanto na gestão como nas vendas.
No segmento de pizzaria, a Spoleto adotou um sistema de IA com visão computacional, que controla a qualidade e a produtividade ao oferecer uma plataforma de indicadores e relatórios periódicos. Na prática, é uma câmera localizada no teto da cozinha da loja para captar imagens da produção das pizzas. A máquina aprende qual é o padrão de cada sabor do produto, o que ajudará a identificar possíveis gaps operacionais, possibilitando a correção deles com maior agilidade.
Já a seguradora Prudential espera otimizar processos e realizar operações e análises com mais eficiência. A marca investiu cerca de R$ 1 bilhão em soluções de inteligência artificial e machine learning para aprimorar a contratação dos seguros. Atualmente, mais de 25% das apólices da Prudential são emitidas em poucos minutos. Quase metade dos clientes conseguem ter uma decisão de subscrição no momento do preenchimento da proposta.
No grupo MoveEdu – detentor das marcas Microlins, Prepara Cursos e Ensina Mais Turma da Mônica – a IA veio para turbinar o marketing. A holding fez parceria com uma empresa que criou um robô integrado para qualificação dos leads. O projeto está em fase de teste, mas a intenção é aumentar as vendas e eliminar a demora em dar resposta ao interessado.
“Quando o lead cai no meu CRM, um bot é ativado pelo WhatsApp. Então a conversa vai fluindo até que o lead avança e é transferido para meu vendedor”, explica André Gabriel, gerente de expansão do MoveEdu.
Uma pesquisa global divulgada pela consultoria McKinsey, no fim de maio, indicou que 72% das empresas entrevistadas adotaram IA em 2024 – no ano anterior, a porcentagem era de 55%.
A marca de calçados e acessórios Constance também mirou no CRM. A empresa assinou contrato com uma ferramenta de IA para trabalhar a base de clientes, que hoje está na casa dos 150 mil.
E a Nutty Bavarian, especializada em castanhas glaceadas, tem usado ferramentas de IA generativa como assistentes em processos que incluem o desenvolvimento de embalagens, materiais para redes sociais e conteúdo para treinamento dos franqueados. “No fim das contas, o maior ganho da IA é a agilidade nos nossos processos”, finaliza André Novaes Farias, COO da empresa.
Uma pesquisa global divulgada pela consultoria McKinsey, no fim de maio, indicou que 72% das empresas entrevistadas adotaram IA em 2024 – no ano anterior, a porcentagem era de 55%. Outro estudo encomendado pela AWS à Access Partnership indicou que 97% das empresas esperam usar soluções baseadas em IA até 2028. Em outras palavras, a inteligência artificial já não é tendência, mas uma realidade. Especialmente no franchising.